domingo, 8 de dezembro de 2019

O bar


Era mais uma noite como todas as outras. Saio de casa, olho e vejo o céu, incomum – tinha algo estranho pairando no ar, como se algo estivesse prestes a acontecer. Tranco o portão e sigo em frente –
apenas queria sair dali, seja por alguns minutos ou por que não horas? Segui sem destino pelas ruas e vielas, apreciando o vento no rosto, ouvindo o barulho das árvores pelo caminho, as ruas mal iluminadas, apreciando o momento, o agora – meu presente. Ao me perder por alguma dessas ruas, sinto algo no rosto, paro e olho para cima e percebo as pequenas gotas de chuva vindo ao meu encontro, como se fosse exatamente o que eu precisava. Aproveito, por alguns instantes, aquele momento singular par mim, mas em poucos segundos, as gotas se transformam em uma forte pancada de chuva. Começo a correr, mas com um sorriso no rosto, apostando com a chuva, o quanto ela conseguia me encharcar – parecia bobo, mas era o tipo de aposta que me conectava com aquela criança interna. Ao correr, o mais rápido que podia, avisto, ao que me parecia, um bar com um letreiro escrito “Lua” – tentei me recordar se já havia, em algum momento, ouvido falar desse lugar e nada vem à mente. Penso em usar o lugar como refúgio, ao menos até a chuva passar. Ao entrar por uma porta toda trabalhada, me deparo com algumas mesas, com pequenos candelabros e cadeiras com detalhes vitorianas. Em um dos cantos havia duas mesas de sinuca e ao lado, uma jukebox. Atrás de uma bancada estava um barman que, ao me ver, abre um largo sorriso e acena para me sentar sobre um dos bancos da bancada, em frente a ele. Acabo não pensando muito e vou. Antes de me sentar, ele fala:
— Noite estranha, não é? Essa chuva foi inesperada. Sente-se, fique à vontade.
Ao me sentar, não vejo o cardápio pelo balcão e quando me dirijo para perguntar, ele continua a falar, não deixando de sorrir:
— Serei seu guia pelo “Lua” hoje. Deixe-me preparar algo para beber, eu sei exatamente o que você precisa! Confie em mim! Quando digo isso, é porque conheço o que as pessoas precisam.
Me pareceu estranho de imediato e, quando me dou conta, vejo ele se pôr a fazer uma mistura em copo, com nomes que nunca havia visto na vida – Sempre fui o tipo de pessoa que gosta de experimentar, mas a forma como me falou, fazendo aquela mistura sem ao menos questionar os meus gostos, nada. Estranhamente me senti confortável com isso, senti que apenas deveria apreciar aquele momento, sem questionamento algum – confiei no meu instinto!  
Ao pôr o copo em minha frente, com uma quantidade razoável do drink, ele se pôs a falar novamente, com aquele tenro sorriso no rosto:
— O “Lua” é um bar diferente. Fique em paz, aqui no “Lua” queremos apenas mostrar algumas perspectivas diferentes. Somos bons ouvintes, por isso saiba que sabemos de tudo! Espero que aproveite o seu drink.
Ao olhar o copo, não penso duas vezes e tomo um gole. O gosto é bem agradável, tem um leve amargor e um toque de doçura, que se misturam e tornam um sabor único – nunca havia tomado nada nem próximo daquele sabor. Quando coloco o copo na bancada, ele continua a falar:
— Como te disse sabemos de tudo aqui no “Lua”, temos uma particularidade, não conhecemos as pessoas pelas palavras ditas, mas sim pelos seus corações. Não temos um “cardápio” fixo, afinal, cada pessoa aqui precisa de algo em especial. Quando te vi entrar, percebi o que você precisava: apenas percepção. Seu drink é único. Tudo o que precisa no agora! Essa mistura de amargor e doçura é a combinação perfeita para o que vou te falar e leve para sempre consigo: A cada pequeno gole desse drink lembre-se que a vida é como ele, tem seus toques de amargura, mas tem os toques de doçura. Todos passamos por isso diariamente, em cada passo que damos em nossa jornada. Nem sempre será doce, mas também nem sempre será amarga. O importante é você ter a percepção de até nos toques amargos enxergar a doçura, e o inverso também se aplicada a regra, mas independente disso, você escolhe qual lado quer carregar pra si!
Ao terminar essa frase, sinto lágrimas escorrerem pelo meu rosto, sem filtro, sem pensamentos, apenas saem. E não consigo soltar uma palavra, quando ele continua a dizer:
— Projete nesse drink, sua vida e seus problemas, tenha certeza que a cada gole, ele virá como uma pequena percepção e luz, luz para seus problemas e suas batalhas, além de te relembrar os bons momentos da vida. Aproveite o agora! A cada pequeno gole terá a clareza da água, a paciência de um monge, a força de mil homens, a bondade de um santo, o discernimento necessário para si mesmo! Estarei por aqui, e saiba que nunca estará sozinho! A propósito, esse é por minha conta! – aquele sorriso que nunca saiu da minha mente.
Fico completamente atônito, com o rosto encharcado por lágrimas, me pus a apreciar aquela bebida, em meu silêncio, apenas atento a ela e ao barman, que se pôs à fazer suas tarefas, a limpar os copos – sempre com aquele sorriso que nunca mais saiu da minha mente.  
Ao acabar o drink, me senti revigorado, como se fosse uma pequena poção mágica. Deixo o copo em minha frente e agradeço apenas com um aceno – me faltavam palavras para agradecer por aquilo. Quando ele me chama ao fundo e diz:
— Não agradeça a mim, mas sim, a si! Todos estamos sempre fazendo o melhor, saiba que esse drink não tinha nada alcoólico. Nunca saberá a sua fórmula, mas posso te dizer que ele tem algo muito especial, a sua força, a sua essência, seu mérito. Sempre que precisar o “Lua” estará disponível para ti. Lembre-se: você nunca estará sozinho na sua jornada!
Ao sair vejo que a chuva parou, fecho os olhos e ao abrir me vejo em casa. Me pergunto se aquilo foi um sonho, um devaneio ou se aquilo realmente aconteceu? Independentemente de qualquer coisa, decido que o hoje será diferente do ontem, fazendo um amanhã muito melhor!

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